Na minha
jornada profissional sempre lidei com pessoas e com as tecnologias da
informação e da comunicação como mediadora para auxiliar nas interações.
Atualmente estou em um modelo de trabalho onde a presença física passou a ser
minoritária. Nessa transição notei que a “leveza” na comunicação eletrônica sem
o contato físico regular diminuiu a “suavidade” nas palavras. Em se tratando de
comunicação por e-mail é preciso respirar antes de responder. É claro que deve
prevalecer o profissionalismo sempre.
Depois desse
breve contexto questiono-me como a afetividade pode ser construída em situações
onde a pouca ou nenhuma interação física (salas de bate papo, redes sociais,
etc). Primeiramente vamos definir e delimitar um conceito de afetividade.
Segundo
Merleau-Ponty (1994) a princípio os fatores envolvidos na afetividade (estados
afetivos, prazeres e dores fechados em si mesmo) não tem ligação compreensível
e só é esclarecida por um esquema organizacional corporal. O raciocínio
merleau-pontiano vai além da sexualidade e da relação atrativa entre os corpos.
De acordo com o mesmo nas relações amorosas a percepção do corpo alheio é
acompanhada de consciência. Esse reconhecimento da consciência determina um ato
como meramente sexual ou não sexual. O amor pode transcende o corpo e atingir a
subjetividade alheia esse é o fenômeno da intersubjetividade.
Seguindo agora
um raciocínio próprio mesmo que seja transcendido do corpo para a consciência,
ainda sim precisa do corpo como fase inicial da subjetividade. Voltando ao
contexto exposto acima, questiono-me e quando não existe o corpo como poderemos
criar a afetividade?
Para ajudar a
responder recorrerei agora a Luijpen, onde o mesmo diz que o amor vai além do
simples encontro e a sua realização se faz a partir do apelo mútuo a
subjetividade. O apelo se faz contido em uma palavra, em um gesto, no olhar, em
um pedido, etc.
A manifestação
de si e do outro (manifestar e reconhecer a consciência e os aspectos
subjetivos tanto quando próprio e do outro) pode então ocorrer sem que inicialmente
haja a presença do corpo. O uso das palavras (apelo) seja em comunicados ou
e-mails pode criar e sustentar uma ligação afetiva com os envolvidos quando
cultivada a intersubjetividade. A presença síncrona ou assíncrona (outra forma
de apelo sendo ao vivo ou gravada) pode reforçar a necessidade de “contato”
para criar laços de empatia.
Cabe aos
profissionais que usam a comunicação atentar-se para esses detalhes e não
somente disparar palavras digitadas sem emoção ou sensibilidade. É preciso que
haja respeito na interação com o outro independente de estar “face a face”.
Essa abordagem adiciona valor ao atendimento indiferente da via de comunicação.
Convido vocês
a aprofundarem o raciocino nos artigos "A Comunicação e os Neurônios Espelho" e “Ser afetivo e profissional – Qual oponto de equilíbrio?”.
Fonte:
LUIJPEN, Wilhelmus Antonius Maria. Introdução à fenomenologia
existencial. Tradução de Carlos Lopes de Mattos. São Paulo: EPU/EDUSP, 1973.
PONTY, Maurice
Merleau. Fenomenologia da Percepção. Livraria Martins Fontes Editora LTDA. São
Paulo, 1994.